NÃO ERA


Não era
uma estrela
era uma mancha
na vidraça
Não era
uma chuva
era o trinco
era a porta
que nunca se abria
em pequenas doses
quando a hora avança
para o escuro
como um rio
que inevitavelmente
segue seu curso
Nas cordas
do meu violão
Na melodia
que me chama
No verso
que te ausenta
Não era
o meu corpo
era a falta
em abandono
(nem teus olhos
mas a saudade
que nunca opaca)
Não era
mais a vida
era a medida
num resto dela
Não era
um trapezista
era eu
neste mundo
de equilibrista
(um palhaço
de lágrimas ocultas)
Não fosse propício
Não fosse a lua
A prata do breu
Eu jogado num sofá
crendo como um ateu
A janela
o quarto da vida
A mancha na vidraça
(Não fosse)
o prostituto
desta mentira
que só eu creio
mas não
(não)
era uma estrela

GilbertoMaha®©

Pernas para o ar


Cancan
Canquem
Canquim
Cancom
Cancum
de pernas para o ar
não se chega
a lugar nenhum

GilbertoMaha®©

Detalhe na multidão

A minh’alma está em festa
vou fazer seresta
p’ro meu coração
Vou cantar apaixonado
sempre acompanhado
do meu violão
Hoje é noite de alegria
até raiar o dia
vou cantarolar
Amanhã é dia de feira
e sem fazer besteira
eu vou trabalhar
Pego firme no batente
e toco pra frente
toda minha tarefa
Saio meio atordoado
mas com todo o cuidado
pois não tenho pressa
Esperando outro domingo
de churrasco e bingo
para me alegrar
Esta é a minha vida de pobre
mas de sentimento nobre
e Deus a me acompanhar
Afinal é festa junina
pego minha meninha
morena Maria Rita
sempre tão bonita
em seu vestido de chita
em seus olhos um clarão
Sigo direto para o baile
e lá ela é o detalhe
no meio da multidão
E quando a noite finda
manhãzinha ainda
em meus ouvidos, guizos
Sigo firme p’ra minha lida
noite mal dormida
e eu sou só risos

GilbertoMaha®©

Poema para Além Mar


Permita-me
ver-te bem
além dos olhos
Além das espumas
de Abrolhos
Além do mar
sem fim
Permita-me
ver-te a alma
incandescida
pelas noites
mal dormidas
por não estares
junto a mim
Permita-me
ver-te além
da alvorada
após a noite
maltratada
a procura
de um jardim
Permita-me
ver-te além
do horizonte
que procuras
não sei onde
nem em Povoa de Varzim
Permita-me
oferecer-te mãos amigas
longe das invejas
e sem intrigas
Colo quente
incandescente
Coração latente
a te ofertar
tudo isso
cá do outro lado
deste seu
além mar

GilbertoMaha®©

Entre o papel e a pena

Ser poeta vale a pena
Muitas vezes
sinto pen
em ver poemas
as dezenas
sem créditos
fora de cena
depois de molhados
em risos e prantos
sob suas penas
jogados pelos cantos
Nos versos e prosas
as penas são rosas
Vale a pena
Sim vale a pena
o que fica
entre o papel
e a pena

GilbertoMaha®©

Abismo, palco da vida



Para mim abismo
além de um palco da vida
nada mais é
Muitas vezes cismo
nele dou cambalhota
e me aprumo
na ponta do pé
Quem
na beira do abismo
nunca se viu
quando achava
que tudo estava perdido
o elo totalmente partido
e de repente
a solução surgiu
Na beira do abismo
todos somos bailarinos
Só mudam os figurinos
e os personagens
somos nós mesmos
Animais domésticos
fingindo-se de felinos

GilbertoMaha®©

As Peças e o Relógio



Diz a razão que a simples soma das peças que compõem um relógio,
não resulta no relógio. É preciso mais que isso:
as peças devem esar obetivamente organizadas para atingirem o seu objetivo,
que é a medição do tempo.
Vale dizer: a soma das partes não é necessáriamente igual ao todo.

GilbertoMaha®©